quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A Culpa de ser privado



No meu entendimento nós devemos nos sentir culpados de sermos privados. Todos nós, sem exceção. Mas “alto lá”; não estou me referindo a apenas uma das acepções do termo, mas às duas, igualmente. Explico-me.

Somos privados de inúmeras coisas: de uma justiça que seja eficaz, tanto em suas decisões quanto em seus cumprimentos; de uma saúde que não seja apenas universal, mas, igualitária, ética, humana e, minimamente, confortável; de educação, não apenas de qualidade, mas que forme mulheres, homens e cidadãos que busquem, cada vez mais, o melhoramento humano através da ciência e dos conhecimentos acerca do mundo e do homem. Somos privados disso tudo – e muito mais – e nós deveríamos nos sentir culpados por tudo isso. E por que? Porque somos apáticos, preguiçosos, conformados com a nossa realidade, e, por isso mesmo, incapazes de lutar a favor, não de regalias e uma vida luxuosa; mas de condições essenciais para uma sociedade humana dita “evoluída”.

Na outra acepção do termo, também deveríamos nos sentir culpados. Sim, por privado, deveríamos sentir ódio de nós próprios por continuar a perpetuar uma sociedade onde tudo, desde nossas aulas escolares, passando pelo consumo, ostentação, trabalho, eventos sociais e lazer; tudo isso é privado, tudo é individual, egoísta, egocentrista e, quase sempre, buscado e obtido de uma maneira exclusiva e sem nenhum arrependimento. Nos vangloriamos de termos conseguido tudo o que desejamos e fazemos disso um modo "feliz" de viver. Como se a felicidade realmente dependesse da medida do sucesso pelo qual obtemos nossos "sonhos e desejos". E por "tristeza", em contrapartida, entendemos a falta, o "vazio", nossa incapacidade que se torna tão mais aguda e profunda à medida que os outros a nossa volta obtêm cada vez mais e mais rápido o que gostaríamos de ter.

Como não nos sentirmos culpados por vivermos num mundo assim? Como não podemos sofrer ao constatar que tanto deste mundo e, o que é pior, o quanto do nosso sofrimento se resume às consequências, não de atitudes de “poderosos” e “líderes”, mas são frutos de nós mesmos? Somos nós que repetimos e reforçamos esta realidade, todos os dias e em todos os lugares, sem exceção, que não só não ajudam, mas amplificam e perpetuam o sofrimento humano - o próprio e o de muitos ao nosso redor.

Mas justiça seja feita, não posso usar o termo “nós todos” sem tentar, ao menos, evidenciar as exceções. Há quem procure fazer de sua vida algo diferente, “excêntrico” e inovador. Há corajosos e corajosas que, mesmo no anonimato de tantas formas diferentes de existências, não coadunam com o “resto” do mundo. A esses verdadeiros heróis – e o são de fato, pois que não buscam apenas a satisfação própria, senão a satisfação de viverem uma vida de sentido, orientando-se pelo "fiel da balança" de suas consciências - ; a essas e esses heróis o meu mais sincero e profundo agradecimento; o meu maior reconhecimento de grandeza e, porque não dizer, minha mais profunda inveja; pois eles chegaram antes de mim, num patamar, que ainda sonho, quem sabe, um dia chegar.

E se você conhece um desses heróis, por favor, me encaminhem, apresentem-me e, quando possível, ajudem a multiplicá-los tornando-se, você também, um deles!

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

PARA ONDE IR?

Quando não se sabe para onde se quer ir, qualquer caminho serve.” (parafraseando Lewis Carrol, em Alice no País das Maravilhas)

Esta não é apenas uma frase contextualizada, direcionada apenas para Alice, quando esta se encontra numa encruzilhada no meio da floresta. É uma pergunta de questões últimas, ou seja, que revelam como significamos nossa vida, nossa existência, e, em último caso, a resposta a estas questões revelam o motivo pelo qual nos encontramos aqui, juntos, neste mundo.

O que me fez remeter a essa questão não foi o acaso, nem tão pouco um gato sorridente, mas uma ida solitária a um shopping. Após assistir ao filme Hobbit “2” (que detestei, diga-se de passagem, não por ele talvez, mas pela minha falta de total alienação exigida para assistir a esse filme de forma “despropositada”), e ao passear em um shopping lotado de pessoas interessadas em compras, compras e compras; ao passar por lojas que tentavam disputar a atenção dos consumidores, quero dizer, consumistas que por ali passavam – dos quais é claro, me incluo- e após observar tudo isso, ainda me perguntava como era possível num mesmo mundo de tanta fartura e opulência, tanta gente ainda morrer por falta de comida, cuidados básicos de saúde, e, mais ainda, sem nenhum acesso a qualquer coisa que poderíamos chamar de lazer, ócio ou mesmo "realização”.

Não me considero um ativista social, nem mesmo alguém capaz de “nadar contra a corrente”, mas, absolutamente, não nasci para isso!, não quero entrar nessa disputa, numa concorrência para saber quem sobreviverá a uma seleção, prova, concurso, sei lá mais o quê! Como conseguir achar algum sentido numa vida assim? Como alguém consegue realmente dormir se sentindo realizada ao viver, morar e existir neste mundo? Sei que não sou o único atormentado com estas questões. Sei mais ainda que tenho muito a melhorar – e muito mesmo – para conseguir enfrentar a enxurrada de tendências, marketings, modas e tantas outras tentativas materialistas que fazem com que eu fique, só aqui, na minha casa, no conforto que esse quarto oferece, na tranquilidade que é escrever na frente de um notebook que, diga-se de passagem, nem metade da população mundial tem acesso, e boa parte nunca terá! Sou mais do que isso, devo ser e quero ser!

Realmente esse é um mundo estranho. É um mundo absurdo esse em que vivemos! Será que isso mudará? Será que daqui a 50, 100 anos ainda continuaremos a pensar que há diferenças entre um homem branco e um homem negro? Entre um indígena e um japonês? Entre um homem que possuí um barco do tamanho de um prédio e um homem que vive na Savana africana? E não estou falando só de desigualdade social não! Estou falando em mais, estou falando de preconceito, inversão de valores e diferenças que ainda insistimos em manter!

Isto também não é só um desabafo, é uma forma de dar vazão a tanta insatisfação e tanta dor ao ainda perceber que sou tão pequeno perto de uma estrutura tão ardilosamente montada e mantida. E não acredito que tudo isso seja só uma questão de cultura, política, nem mesmo economia. E mais do que tudo isso, é uma forma de pensar que ainda não foi explicitada. É um medo que precisa ser vencido, é uma forma de nos reconhecermos como irmãos de uma mesma espécie vivendo em um mesmo planeta! Temos não só inteligência para bem utilizar nossos recursos naturais, mas somos capazes de distribuir nossas “riquezas” entre todos os seres viventes e ainda sermos felizes! Sim, essa palavra velha e desgastada ainda merece seu lugar: “Felicidade!”. Ahhh, que saudade dos meus sonhos utópicos e da minha vontade louca de poder acreditar que um dia “mudaria o mundo”...; pois é, quase meia vida se passou, e acho que nem mesmo o meu próprio mundo, este ao meu redor, fui capaz de mudar.

Mas ainda tenho coragem, tenho a certeza de que não estou só – afinal de contas, não é possível que diante de tanta arrogância, enganação, corrupção e tanta falsidade isso só caiba a mim, só caiba a mim conseguir enxergar através desta barreira. Eu sei que não estou sozinho e espero que, de onde você estiver, como receber esta mensagem, possa também unir seu coração e sua alma a minha para que juntos – e somente juntos – possamos construir algo diferente!


Que possamos saber para onde estamos indo, que saibamos para onde queremos ir, e como queremos estar, pois só assim poderemos unir nossas forças, nossas vontades, nossos ideias por algo diferente do que hoje vemos, vivemos e sentimos.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Diminuição da maioridade penal Re-estreando minha volta ao blog, um texto bem atual, sobre um tema que, realmente importa falar:


    Estou ouvindo muitíssimos apelos, de pessoas dos mais variados níveis de instrução, pela diminuição da maioridade penal. Mas, realmente, fiquei chocado com o parecer do jornalista Alexandre Garcia, que contava a seguinte história num programa de rádio:

   Numa determinada data - não sei precisar quando - em terras estadunidenses, um garoto de 8 anos havia esfaqueado sua irmã, de 5 anos. Ele foi imediatamente preso, acusado de homicídio. O xerife da cidade, disse aos habitantes daquele sítio, que eles "poderiam dormir em paz, pois aquele criminoso, não estava mais solto". Na mesma data, no Brasil, um jovem de 'apenas' 16 anos, havia matado a tiros a própria mãe. E, segundo Garcia, o delegado não podia fazer suas as palavras do xerife, já que, segundo ele, novamente, no Brasil tais pessoas não podem ser presas, e, no máximo irão cumprir medidas socioeducativas.

   Ótimo argumento Sr. Garcia. Algo realmente chocante, que, fará qualquer pessoa de "bom senso" colocar, atrás das grades, um malfeitor de 16 anos! Pois bem, eu, como bom "elocubrador" que sou, comecei a pensar, não apenas nos efeitos "pacificadores" da diminuição da maioridade penal - porque, isso sim parece que vai mudar o Brasil..., Será? Mas comecei a pensar em muitíssimas outras restrições que hoje a lei impõem aos menores de 18 anos. Então, aí que a coisa parece ficar um pouco mais complexa. 

   Hoje a venda de bebidas e cigarros, o direito de dirigir, o acesso à pornografia, o "uso" de serviços sexuais está limitado a "maiores de idade", pessoas de 18 anos, que já sabem o que fazem e já sabem quais as consequências dos seus atos para as suas vidas. Correto?

   Porém, esse direito de usar, abusar e fazer o que quiser de suas vidas está sendo defendido também para pessoas mais jovens. Alguns acreditam que adolescentes - sim, são adolescentes! - de 16 anos possam pagar a pena pelas consequências de seus atos, com cadeias e penas severas. Justo, não é?. Mas e quando estes mesmos adolescentes, começarem a querer beber até cair, viajar pelo mundo, passar a noite em claro numa festa na casa dos amigos(as) fazendo o que quiserem? Me pergunto: será que os mesmos defensores da diminuição da maioridade penal, deixarão suas filhas e filhos assumirem tais decisões? Você que quer a redução da maioridade penal, que nem mesmo pensa na possibilidade de ver sua filha dormindo na casa do namorado, com 16 anos "apenas", vai querer dar a ela o DIREITO de ir e vir, sair com quem quiser, comprar bebidas e cigarros, vender seu corpo por quanto ela quiser, etc.? 

   Pois é, eu realmente acredito que, quando algumas pessoas começarem a pensar, não apenas nas consequências da diminuição da maioridade penal para uma sociedade mais pacífica "onde podemos dormir em paz"; mas quando estas pessoas começarem a pensar nas consequências desses seus posicionamentos para o que pode ocorrer, dentro de suas casas, sob "suas asas"..., acho que as opiniões poderão mudar em muito!

    Pois, como diz o ditado "pimenta nos olhos dos outros, é refresco". E, agora, o que acontece quando o azedume e as consequências dos nossos atos penetrarem as narinas de nossos lares? Será que haverá quem defenda a diminuição da maioridade penal?

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Não sei bem o que deveria escrever neste primeiro texto do meu blog. Talvez devesse iniciar fazendo uma reflexão sobre o que espero, o que almejo deste meio de comunicação onde poderei partilhar parte da minha experiência pessoal - já isso seria um bom objetivo a ser atingido.

Ou ainda poderia fazer diferente: contaria sobre quem sou, minha história de vida até aqui, as experiências que passei, as dificuldades que passei, as vitórias que conquistei...; tanta coisa que por si só também dariam bastante "pano pra manga".

Mas quem sabe eu comece diferente?! "Só pra contrariar"- e para satisfazer àqueles que me conhecem, e sempre esperam de mim a inclusão de uma idéia "picante" e "polêmica" - falemos de um assunto, a mim particularmente caro: Deus (-Uau! Isso sim dá "pano pra manga!").

Todos - inegavelmente, todos! - possuem alguma idéia ou conceito acerca desta palavra, "Deus" - que para alguns pode estar escrito com "d" maiúsculo ou minúsculo, mas preservemos aqui o bom português e demos a "Deus" o mérito do substantivo próprio, como a qualquer outro nome -. Sim, até mesmo o ateu, por mais que negue a existência daquele, não poderia desmentir que a própria etimologia da palavra pela qual se define, já possui em si mesma a negação desta entidade.

A Deus são atribuídos várias características, uns o chamam de "Criador", outros de "Pai"; alguns ainda lhe atribuem características bem peculiares, como "onisciente, onipresente e onipotente" - retiradas, quase sempre, das lembranças do que um dia foram algumas lições catequéticas durante a infância.

Quanto a mim prefiro-lhe outras designações menos usuais, como o "Tudo", ou "Origem e Fim"; ou ainda, de maneira mais particular, "o Verdadeiro Sentido da Vida" - conceito o qual comprometo-me em debruçar-me mais adiante.

Muito embora cada um de nós possa possuir experiências muito diferentes em si mesmas, tão diferentes quanto as impressões digitais que trazemos conosco; é inegável também concluir que todos, alguma vez durante nossa vida já nos perguntamos sobre aquelas tão famosas indagações: "de onde viemos? Para onde estamos indo ? Existe algo após a morte?", e tantas outras que nos fazem refletir sobre a importância de nossa existência em relação ao mundo em que vivemos.

Alguns porém não se detêm muito sobre essas questões: preferem respostas rápidas como aquelas já "pré-fabricadas"- "Deus me criou e isto me basta. Sigo a minha vida fazendo o bem que acho que devo" - ; ou ainda - "Se Deus existe ou não, para mim não faz diferença, o importante é 'ajudar, sem olhar a quem'" - e poderíamos colocar aqui tantas outras respostas rápidas para esta questão.

Fato é que, se você já leu este texto até aqui, muito provavelmente seja porque você, assim como eu, já se deteve por muito mais do que alguns minutinhos para refletir sobre esta questão. E mais, para você, como para mim, este assunto tem uma importância tão central nas nossas existências que as conclusões retiradas de suas reflexões não só nos respondem àquelas perguntas supracitadas, mas também nos indicam a maneira pela qual interpretamos e entendemos a própria realidade que nos cerca - será que acertei?

Mas o que esperar de mim, um pessoa que como você também está buscando, continuamente, entender os fenômenos que nos cercam e, não raras vezes, nos colocam em situações bem embaraçosas, em que nossa "vã filosofia" não dá conta de responder?

Talvez aqui seja importante começar a relatar algo de especial da minha pessoa, algo que faça deste blog algo único: vivi durante dois anos numa comunidade monástica cristã-católica e hoje estudo psicologia e interesso-me por vários assuntos referente à filosofia, mais precisamente aos assuntos epistemológicos (se é a primeira vez que você "ouve" ou lê esta palavra, seria muito bom procurar o significado dela antes de continuar).

A primeira pergunta que a grande maioria das pessoas sempre me fazem quando se tornam cientes desta minha experiência dentro da Vida religiosa é: "por que você deixou o mosteiro?", e eu sempre faço questão de responder de uma maneira totalmente inesperada: - "É porque, quando os motivos que me fizeram entrar deixaram de existir, eu vi que tudo aquilo que eu buscava ali, eu encontraria também fora".

Não posso negar que sinto ainda muitas saudades daquele espaço único, onde pude realmente realizar experiências maravilhosas e profícuas. Mas mais do que isso, aquele lugar foi um ambiente muito importante para encontros - no amplo sentido da palavra - onde várias indagações puderam ser plenamente respondidas, mas onde também muitas outras surgiriam.

Das questões respondidas poderia citar várias, mas, para efeito de foco e continuidade da questão, vou me ater apenas a algumas: 1) Quem é Deus?; 2) Quem sou eu?; e 3) O que me motiva a continuar a viver a minha existência?

(continua)


"Caminhando..."