No meu entendimento nós devemos nos sentir culpados de
sermos privados. Todos nós, sem exceção. Mas “alto lá”; não estou me referindo
a apenas uma das acepções do termo, mas às duas, igualmente. Explico-me.
Somos privados de inúmeras coisas: de uma justiça que seja
eficaz, tanto em suas decisões quanto em seus cumprimentos; de uma saúde que
não seja apenas universal, mas, igualitária, ética, humana e, minimamente,
confortável; de educação, não apenas de qualidade, mas que forme mulheres,
homens e cidadãos que busquem, cada vez mais, o melhoramento humano através da
ciência e dos conhecimentos acerca do mundo e do homem. Somos privados disso
tudo – e muito mais – e nós deveríamos nos sentir culpados por tudo isso. E por que? Porque somos
apáticos, preguiçosos, conformados com a nossa realidade, e, por isso mesmo,
incapazes de lutar a favor, não de regalias e uma vida luxuosa; mas de condições
essenciais para uma sociedade humana dita “evoluída”.
Na outra acepção do termo, também deveríamos nos sentir
culpados. Sim, por privado, deveríamos sentir ódio de nós próprios por
continuar a perpetuar uma sociedade onde tudo, desde nossas aulas escolares,
passando pelo consumo, ostentação, trabalho, eventos sociais e lazer; tudo isso
é privado, tudo é individual, egoísta, egocentrista e, quase sempre, buscado e
obtido de uma maneira exclusiva e sem nenhum arrependimento. Nos
vangloriamos de termos conseguido tudo o que desejamos e fazemos disso um modo "feliz" de viver. Como se a felicidade realmente dependesse da medida do sucesso pelo qual obtemos nossos "sonhos e desejos". E por "tristeza", em contrapartida, entendemos a falta, o "vazio", nossa incapacidade que se torna tão mais aguda e profunda à medida que os outros a nossa volta obtêm cada vez mais e mais rápido o que gostaríamos de ter.
Como não nos sentirmos culpados por vivermos num mundo
assim? Como não podemos sofrer ao constatar que tanto deste mundo e, o que é
pior, o quanto do nosso sofrimento se resume às consequências, não de atitudes de “poderosos”
e “líderes”, mas são frutos de nós mesmos? Somos nós que repetimos e reforçamos esta realidade, todos os
dias e em todos os lugares, sem exceção, que não só não ajudam, mas amplificam e perpetuam o sofrimento humano - o próprio e o de muitos ao nosso redor.
Mas justiça seja feita, não posso usar o termo “nós todos”
sem tentar, ao menos, evidenciar as exceções. Há quem procure fazer de sua vida
algo diferente, “excêntrico” e inovador. Há corajosos e corajosas que, mesmo no
anonimato de tantas formas diferentes de existências, não coadunam com o “resto”
do mundo. A esses verdadeiros heróis – e o são de fato, pois que não buscam
apenas a satisfação própria, senão a satisfação de viverem uma vida de sentido,
orientando-se pelo "fiel da balança" de suas consciências - ; a essas e esses
heróis o meu mais sincero e profundo agradecimento; o meu maior reconhecimento
de grandeza e, porque não dizer, minha mais profunda inveja; pois eles chegaram
antes de mim, num patamar, que ainda sonho, quem sabe, um dia chegar.
E se você conhece um desses heróis, por favor, me encaminhem, apresentem-me e, quando possível, ajudem a multiplicá-los tornando-se, você também, um deles!
E se você conhece um desses heróis, por favor, me encaminhem, apresentem-me e, quando possível, ajudem a multiplicá-los tornando-se, você também, um deles!
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